sábado, 8 de novembro de 2008

Poesias na Matemática

"Desenho"

Cecília Meireles
Traça a reta e a curva,

a quebrada e a sinuosa.

Tudo é preciso.

De tudo viverás.

Cuida com exatidão da perpendicular

e das paralelas perfeitas.

Com apurado rigor.

Sem esquadro, sem nível, sem fio de prumo

traçarás perspectivas, projetarás estruturas,

número, rítmo, distância, dimensão.

Tens os seus olhos, o teu pulso, a tua memória.

Construirás os labirintos impermanentes

que sucessivamente habitarás.

Todos os dias estarás refazendo o teu desenho.

Não te fatigues logo.

Tens trabalho para toda a vida.

E nem para o teu sepulcro terás a medida certa.

Somos sempre um pouco menos do que pensávamos.

Raramente um pouco mais.


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